Recuperar e conservar o meio ambiente são desafios em qualquer lugar do mundo. Em Ceres, uma cidade de 21 mil habitantes localizada na região central do Estado de Goiás, foi a ONG Núcleo de Organização e Valorização da Mulher – Nova Mulher – que começou essa luta e propôs o Projeto Pé de Cerrado, que está mudando a forma dos trabalhadores rurais lidarem com o campo e com os problemas ambientais no município.

A ideia do Pé de Cerrado surgiu da atuação da ONG Nova Mulher junto às trabalhadoras rurais e ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ceres, que discutiam e promoviam atividades de profissionalização, de desenvolvimento rural e também ações para conter a degradação ambiental no município. Havia uma necessidade de expandir o trabalho nessas áreas e, depois de muitos estudos, o projeto foi proposto e aprovado em rigorosa seleção pública do Programa Petrobrás Ambiental em 2012.

O projeto alcançou resultados positivos, levando a educação ambiental até as escolas e transformando o modo de produção e conservação do solo e dos recursos hídricos de diversos produtores rurais de Ceres. Reconhecido nacionalmente, o Pé de Cerrado é mais um caso de sucesso da ONG Nova Mulher que, desde a década de 1990 tem contribuído com discussões e ações em torno dos problemas sociais, ambientais e da mulher no município.

A atuação das mulheres que posteriormente fundaram a ONG Nova Mulher começou no dia 08 de março de 1990, após um encontro de mulheres que celebraram o Dia Internacional da Mulher. O grupo era formado, na época, por 12 mulheres, em sua maioria donas de casa e trabalhadoras do campo, e elas discutiram e promoveram diversas atividades relacionadas aos direitos da mulher, a violência contra ela, sobre saúde, a drogadição de jovens, entre outros problemas sociais. Ao longo da década, elas realizaram encontros em periferias, meios rurais e em cidades vizinhas levando informação e prevenção contra o câncer de mama e o de próstata, contra a violência doméstica e as drogas, além de oferecer palestras e desenvolver parcerias para a profissionalização e fomentar políticas de trabalho e autonomia financeira das mulheres.

A ONG foi formalizada nove anos depois, no dia 20 de março de 1999, depois de uma intensa e longa campanha para arrecadar fundos para pagar o registro. Foram realizados almoços, rifas e até vendas de pamonhas e quitutes para financiar o sonho de conquistar o documento que ampliou a atuação da entidade.

Com a chegada do Partido dos Trabalhadores no poder em 2003, através do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva que criou a Secretaria de Políticas para as Mulheres, o gênero ganhou força e, finalmente, começaram a ser desenvolvidas políticas públicas para elas em Ceres. Com o apoio da Nova Mulher foi criada, em 2009, o Centro Regional de Referência da Mulher de Ceres, que hoje atende centenas de mulheres de Ceres e região fornecendo atendimento psicológico, jurídico, social e médico às mulheres vítimas de agressões físicas e psicológicas.

No mesmo ano, a ONG Nova Mulher foi contemplada com um edital do Ministério dos Esportes e começou a desenvolver o Programa Esporte e Lazer na Cidade (PELC) que proporcionou, durante dois anos, a prática de atividades físicas, culturais e de lazer nas periferias do município. Em Ceres, 12 profissionais eram responsáveis por diferentes modalidades esportivas e culturais, como o futebol, vôlei, basquete, karatê, capoeira, dança, grafite, dentre outros. O programa também incentivou o envolvimento de todas as faixas etárias, de pessoas portadoras de deficiência e, com isso, estimulou a convivência social, a formação de gestores e de lideranças comunitárias.

A ONG Núcleo de Organização e Valorização da Mulher – Nova Mulher – também proporcionou, ao longo de sua existência, a profissionalização e a inserção de mulheres na política e no campo social de Ceres. Hoje, o quadro mulheres que integram a entidade conta com a Prefeita de Ceres, Maria Inês Brito; a secretária municipal da Saúde, Janaína Firmino dos Santos; a gerente de Políticas Públicas para as Mulheres, Josely Nogueira de Araújo; a vereadora Telma de Paula França; além de agentes de saúde, professoras, assistentes sociais, advogadas, empresárias e mulheres donas de casa e que permaneceram no meio rural, mas com uma bagagem de empreendedorismo e em direitos da mulher e trabalhistas.

O empoderamento das mulheres em Ceres, que se organizaram, cresceram e conquistaram seu espaço no campo e na política, reflete o trabalho da ONG Nova Mulher e a luta pela garantia dos direitos femininos. A entidade também ajudou a população carente do município e de cidades vizinhas, como Rialma e Carmo do Rio Verde com inúmeros projetos e campanhas de cunho social, como o combate às drogas, apoio ao jovem e ao adolescente, contra a violência, entre outros.

Em seu estatuto, a ONG Núcleo de Organização e Valorização da Mulher – Nova Mulher – é previsto o trabalho em diversas áreas, como a mulher, saúde, educação, esporte e também sobre a questão ambiental.  Atualmente, como executora do Projeto Pé de Cerrado, a entidade ganhou um maior reconhecimento local, não só pela repercussão do projeto, mas principalmente pelas ações desenvolvidas junto aos produtores rurais que afetam diretamente toda a população.

Em seus 16 anos de existência, a ONG Nova Mulher tem contribuído com o desenvolvimento social e ambiental de Ceres. Hoje, a comunidade ceresina percebe com mais clareza os impactos que ela produz na natureza e tem desenvolvido inúmeros recursos sustentáveis para a produção. As mulheres têm apoio e também possuem seu espaço social e político, e a população carente e os jovens possuem uma entidade que representa e luta pelos seus interesses.